sexta-feira, 29 de abril de 2011

Complicados e Nada Perfeitinhos!

Vivemos numa época paradoxal! Queremos mais qualidade de vida, mas perdemos preciosas horas em frente ao computador... Aguardamos ansiosos pelas inovações tecnológicas, mas volta e meia, visitamos ao passado, saudosos... Queremos ser maduros, mas nos recusamos a crescer... Tenho enfrentado meus dias de paradoxo! Estou entre dois mundos que se chocam constantemente: enquanto um me diz quem sou o outro tenta me dizer quem realmente sou...
Normalmente as pessoas olham para as outras e enxergam nelas algo de si mesmas ou aquilo que gostariam de ter ou ser. Elegem os seus ídolos e lançam ao fogo os “anti-heróis”! Por razões conhecidas e outras tantas discutíveis, uma legião de perfeccionistas vem ocupando o espaço de pobres e meros mortais que não se martirizavam quando uma simples espinha lhes aparecia no rosto! A geração saúde foi logo sendo substituída pela geração perfeição. As academias que, outrora, auxiliavam na manutenção da saúde e cuidados ao corpo, hoje se tornaram fábricas de músculos e definições corporais. As clínicas plásticas engordam os seus cofres para reduzirem os excessos dos novos “ícones” de beleza e saúde. (?)
O tempo das mulheres “cabeças, desequilibradas, confusas...”, “complicadas e perfeitinhas...” ficou no passado, nos refrães musicais. A perfeição foi repaginada, mas apenas a estética! O cérebro passou a ser um acessório opcional! Corpo sarado é mais gratificante do que ter uma mente sã! Os homens, que já foram de Marte, transitam por Vênus e por todo o universo (que antes era só feminino) sem frescuras! Além dos músculos bem trabalhados, a vaidade ganhou uma proporção nunca antes imaginada. São os metrossexuais garantindo os seus direitos à igualdade nos cabeleireiros e manicures...
Sem preconceito algum, embora possa parecer, não estou aqui cuidando da vida alheia, pois como diz uma amiga minha: “ema, ema, ema!”. Estou questionando sobre a busca desenfreada por uma perfeição, cujo foco está totalmente distorcido e tem os seus valores invertidos! O corpo pode até aceitar uma folha de alface, mas o cérebro não!
É chato e cansativo viver na construção de um corpo que não externa os sentimentos, que tenta esconder falhas e mostrar a superficialidade das nossas preocupações. Tornamo-nos escravos desse “regime” que criticamos, quando percebemos que estamos nos policiando constantemente para que as nossas fraquezas, possivelmente condenáveis, não apareçam. E, por incrível que pareça, quanto mais buscamos esse tipo de perfeição, mais vulneráveis e expostos ficamos! Os paradoxos nos sinalizam a ponta do iceberg!
Pessoas são julgadas o tempo todo e não há meio termo: somos glorificados ou execrados pelo meio em que vivemos! Entre um julgamento e outro nos colocamos ao meio, divididos e às vezes até induzidos pela escolha “perfeita”. Fiz escolhas na vida e as faço a todo o momento. A questão da perfeição contida nelas está no olhar daqueles que elegem os seus heróis e vilões. Para mim, elas fazem parte do meu momento de decisão e, perfeitas ou não, me remetem aos meus próprios paradoxos! Nunca fui fã de crianças, mas tenho quatro filhos e isso me proporciona momentos únicos e intransferíveis! Gosto de silêncio, mas uma boa música não funciona se eu não puder ouvi-la bem alto, e isso me mantém viva e alerta. Gosto de estar cercada por pessoas, mas não abro mão da solidão que me coloca em paz com a minha individualidade e isso me mantém consciente à existência das outras vidas... E elas são tão valiosas quanto a minha!
Quando penso nos paradoxos que enfrentamos diariamente, vejo com inquietação que eles são ecos desse grito da geração perfeccionista que vivemos. Driblá-los, poderia nos tornar heróis e heroínas, bons exemplos, ídolos ou reles pecadores. Não importa, pois tudo acaba sendo decorrência das escolhas que fazemos e elas pertencem a nós! Não podemos exigir que nos aceitem se não formos capazes de decidir e aceitar o caminho que queremos. O peso dos julgamentos que carregamos, talvez esteja condicionado às satisfações que damos e cobramos mutuamente. No mundo “perfeito” dos pobres mortais, não é o corpo ou a estética que atormentam, mas a consciência e a conduta coerente entre quem somos de fato e o que projetamos. Quando as imperfeições nos incomodam, recorremos às maquiagens e então, nos aliamos ao mundo perfeccionista. Mas tudo não passa de maquiagem e dura pouco, porque a consciência nos chamará ao nosso verdadeiro mundo. E ele não aceita superficialidades! A cara tem que estar limpa e o coração purificado!
Por mais que se fabriquem pessoas perfeitinhas, somos todos complicados e assim seremos enquanto as escolhas nos permitirem errar ou acertar, com ou sem medos e culpas. Errar é humano e persistir no erro, mesmo que digam ser burrice, estupidez, teimosia ou ignorância, faz parte de nossas escolhas. Em cada busca pela perfeição, teremos que olhar às imperfeições... E aos paradoxos também...
Jackie Freitas
“Adoramos a perfeição, porque não a podemos ter, repugná-la-íamos, se a tivéssemos. O perfeito é desumano, porque o humano é imperfeito.”
*Imagens retiradas do Google Imagens

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